A produção e apreciação de queijos artesanais desempenham um papel vital na construção cultural e na identidade única de Minas Gerais. Essa relevância ganha destaque com o reconhecimento do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que, em 2008, oficializa o método artesanal de produção do queijo minas como um patrimônio histórico imaterial.
As técnicas queijeiras, inicialmente introduzidas pelos portugueses durante a era da exploração de ouro e pedras preciosas. Com o esgotamento das minas, a economia local se voltou para a agricultura e pecuária. Em um contexto de condições precárias, o desperdício, especialmente do leite, era uma realidade. Foi nesse cenário que o queijo emergiu como uma solução prática, permitindo que o produto alcançasse o mercado de maneira eficiente. Esse momento crucial marcou o início da valorização e da tradição na produção queijeira, uma história intricada que é agora preservada como parte integrante do patrimônio imaterial da região.
A microrregião do Serro é reconhecida na declaração realizada pelo IPHAN e é uma das regiões produtoras mais antigas. Sendo composta pelo os municípios de Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Materlândia, Paulistas, Rio Vermelho, Sabinópolis, Santo Antônio do Itambé, Serra Azul de Minas e o Serro.
Esta região produz um queijo único que por ser artesanal esta sobre a influência de fatores naturais como clima, relevo, vegetação e sazonalidade. Além disso, cada região foi adaptando as técnicas produtoras a sua realidade, sendo no Serro muito comum apenas o uso das mãos no processo de prensagem da massa, gerando assim um produto final mais úmido.
Este projeto trabalhou com os queijos comercializados pela Cooperserro, uma das primeiras cooperativas ligadas ao setor a surgir. Atualmente, ela apresenta grande importância atuando como um agente de transformação financeira, social e econômica na região.
O conceito do projeto, traz o termo compartilhar que significa partilhar, dividir algo com alguém. Este primeiro termo faz referência ao imaginário mineiro de consumo de queijo em momentos de festa, bares e rodas de familiares e amigos, assim as pessoas dividem aquele momento. Além disso, faz menção o consumo do queijo que é pela retirada de lascas, compartilhando com outras pessoas aquele produto. Já história apresenta a história histórica, que refere-se a tradição, e a história de vida de cada produtor que também é importante para que o todo ocorra.
Ao desenvolver a paleta de cores para este projeto, cada tom foi cuidadosamente selecionado para transmitir não apenas uma estética visual, mas uma narrativa autêntica. Começando da esquerda para a direita, o tom claro de amarelo é uma alusão à tonalidade do queijo meia cura. No centro da paleta, os três tons de marrom buscam trazer a presença marcante da madeira na produção manual de queijos, desde as formas até as prateleiras de cura. Além disso, o tom de amarelo foi escolhido estrategicamente para evocar não só a cor do queijo curado, mas também para capturar a cor das flores da Braúnas e do Ipê Amarelo, as duas árvores mais características da região. Assim, cada matiz desta paleta conta a história do processo artesanal, da tradição queijeira à beleza natural que permeia a região.
No contexto da produção artesanal, a abordagem visual foi meticulosamente concebida, incorporando técnicas de ilustração manual que estabelecem uma conexão intrínseca com as características distintas de ambos os processos. Após uma série de testes, foi determinado que a melhor escolha era a utilização de linhas, cada uma delas contando a história única de cada produtor, convergindo para formar a totalidade da ilustração que, por sua vez, simboliza a tradição. A opção pelo formato circular foi deliberada para se integrar harmoniosamente à diagramação, respeitando, ao mesmo tempo, a forma tradicional do queijo.
As ilustrações foram enriquecidas com elementos que capturam a essência da microrregião do Serro, proporcionando identificação e transmitindo uma mensagem significativa. Destacam-se a representação arquitetônica colonial por meio da casa, e a presença marcante das árvores Braúnas e Ipê Amarelo. Adicionalmente, o cenário de morros, uma característica emblemática das paisagens mineiras, reforça a conexão visual com a riqueza da região. Cada linha, cada detalhe, é cuidadosamente concebido para não apenas comunicar, mas também para imergir o observador na história visual que celebra a produção artesanal e a identidade única do Serro.
A LINHA COMERCIAL
A linha comercial é composta por quatro embalagens: queijo curado, queijo meia cura, meio queijo curado e meio queijo meia cura. No processo de concepção de cada embalagem, priorizamos a coesão com a identidade da linha, destacando as propriedades distintas de cada tipo de queijo e, é claro, aderindo rigorosamente às normas estabelecidas pela Anvisa. Cada detalhe foi meticulosamente pensado para não apenas refletir visualmente a essência única do queijo, mas também garantir a conformidade com as regulamentações de saúde e segurança.
Dentro da linha de queijos da Coopeserro, destacam-se dois tipos distintos: o curado e o meia cura. Com o intuito de diferenciá-los, mas ainda mantendo uma coesão visual, optei por utilizar a mesma paleta de cores, porém em combinações distintas. Para o queijo meia cura, adotei um fundo claro, com o rótulo predominantemente em tons escuros, criando um contraste marcante. Por sua vez, para o queijo curado, invertendo a abordagem, escolhi um fundo escuro, com o rótulo em tons claros, proporcionando uma identificação visual clara entre os dois tipos de queijo, ao mesmo tempo em que preserva a consistência estética da linha como um todo.
No desenvolvimento da identidade da linha, para além da estratégia de utilizar a mesma paleta de cores, optei por adotar uma base consistente em todas as quatro embalagens. O destaque inicial é o "DO·SERRO", utilizando a tipografia Veneer, cujas falhas sutis evocam a textura de tipos de madeira, reforçando a conexão com a tradição queijeira enraizada na utilização da madeira. No centro, mantemos a ilustração apresentada anteriormente como elemento central. As demais informações foram cuidadosamente selecionadas, utilizando fontes que harmonizam visualmente com o conjunto, preservando a hierarquia e garantindo uma legibilidade eficaz. Da embalagem do queijo inteiro para a do meio queijo, a mesma sequência foi aplicada com adaptações necessárias devido às restrições de espaço, assegurando uma consistência visual em toda a linha.
No design do rótulo inferior, adotei a mesma estratégia de manter uma base consistente em todos. Os queijos inteiros exibem rótulos que incluem informações essenciais, como dados nutricionais e ingredientes. Além disso, apresentam um breve relato sobre a tradição e a cooperativa, promovendo o compartilhamento da rica história por trás do produto. Destaca-se a presença de um QR Code, convidando os consumidores a escanear para acessar mais informações sobre a tradição, os produtores, a cooperativa e a microrregião do Serro.
No rótulo do meio queijo, devido à área mais restrita, são fornecidas apenas informações obrigatórias, como alertas para alérgicos, detalhes sobre a empresa que comercializa e o código de barras. É importante ressaltar que esse projeto foi desenvolvido em conformidade com as novas regulamentações de rotulagem da Anvisa, vigentes no momento de sua criação, garantindo assim a aderência às normas e diretrizes atualizadas.
O queijo meia cura é um produto que apresenta uma umidade por não ter secado totalmente seu soro, além disto é um produto que necessita de refrigeração. Levando em consideração estes fatores, foi escolhido para a embalagem o Plástico Biofilme desenvolvido pela Embrapa já em fases avançadas de pesquisa. Este material possui uma boa resistência, é transparente e esta sendo estudado para envase de alimentos, como o do queijo. Vale ressaltar que é um material biodeagradável e compostável. Os dois rótulos, superior e inferior, colados na embalagem serão de papel couché autoadesivo com laminação fosca que auxilia na proteção contra umidade externa.
O meio queijo meia cura compartilha dos mesmos materiais e cores presentes na versão inteira. Mantendo consistência, os rótulos seguem o mesmo padrão: o superior adota um formato circular com abas, enquanto o inferior, também circular, conclui o fechamento da embalagem. Essa estética sutilmente evoca os lacres, transmitindo a sensação de que o produto não foi violado, proporcionando segurança ao consumidor e diferenciando-se das abordagens convencionais do setor de laticínios.
Com o intuito de tornar os diferenciais do produto mais acessíveis ao consumidor e manter um equilíbrio estético, o queijo meia cura agora ostenta um selo que atesta sua procedência, destacando a região de origem. Além disso, recebeu a certificação de produção com leite cru, um fator crucial que o distingue como um queijo artesanal de Minas, agregando valor à experiência do consumidor.
O queijo curado apresenta um valor agregado maior, além de ser um produto com a textura mais seca devido ao processo de maturação. Sendo assim, para esta embalagem o material escolhido foi o papel acoplado na cor mais escura do marrom da paleta. Este apresenta boa maleabilidade e resistência para o envase, distribuição e comercialização. Outro diferencial desta embalagem são as dobras realizadas com o papel que evoca a forma de consumo em lascas, além apresentar um acabamento melhor refletindo o seu valor e uma experiência diferenciada ao consumidor que abre como se fosse um presente. Os rótulos seguem o mesmo padrão do meia cura, sendo no papel couché autoadesivo com laminação fosca.
LINHA PREMIUM
O meio queijo curado segue as mesmas escolhas refinadas de acabamento e materiais adotados no queijo inteiro, permitindo que o consumidor reconheça imediatamente que pertencem à mesma categoria, com a única diferença sendo a quantidade de produto. Os queijos curados da Cooperserro apresentam um selo que atestam que o mesmo ganhou um prêmio francês, nele foi realizado o reedesign afim gerar uma harmonia visual com o todo. O outro selo presente nesta embalagem, que é outro diferencial, é ser um produto certificado pela Estrada Real, outro marco para a cultura mineira. Com o intuito de enfatizar o valor percebido pelos consumidores, ambos os selos nesta embalagem recebem o acabamento especial de hotstamp, na cor Crown 957, conferindo um toque de sofisticação.
As embalagens premium foram concebidas em duas versões, representando os dois tamanhos distintos dos queijos oferecidos pela Cooperserro: inteiro e meia peça. No topo da tampa, destaca-se a identidade do Queijo Artesanal do Serro, posicionada de forma centralizada para máxima visibilidade. Nas laterais, encontra-se a assinatura visual da cooperativa em uma versão monocromática, garantindo uma presença marcante e coesa em toda a embalagem. Por fim, no interior, são apresentados trechos significativos sobre o início, a tradição, a declaração e a Cooperserro. Essa abordagem visa fornecer mais conhecimento e valorizar esses aspectos fundamentais da cultura mineira, proporcionando uma experiência completa e informativa ao consumidor.
O shape escolhido para caixa teve como inspiração as formas hexagonais utilizadas no princípio da tradição.Naquela época, eram comuns formas de madeira com contornos hexagonais e furos redondos vazados no centro. A escolha de uma cor escura foi cuidadosamente pensada para reforçar a mensagem, trazendo à tona a presença marcante da madeira, reafirmando assim a ligação com a autenticidade e raízes históricas do produto.
Uma outra necessidade apresentada pelo projeto foi a busca por destacar a individualidade de cada produto. Nas embalagens atuais, a identificação do produtor se limita a um número de certificado, o que dificulta para o consumidor estabelecer uma conexão mais pessoal com o queijo. Nesse sentido, concebi uma etiqueta a ser impressa localmente na Cooperserro, por meio de impressoras térmicas. Esta etiqueta não apenas incluirá o código de certificado, mas também o nome do produtor, proporcionando uma abordagem mais personalizada. Além disso, serão destacadas as datas de fabricação e validade, oferecendo ao consumidor uma experiência mais completa e informação detalhada sobre cada queijo.
LANÇAMENTO | DIVULGAÇÃO
Pensando na divulgação das novas embalagens foram desenvolvidos testeiras de gôndolas buscando aumentar a visibilidade do produto. Neste processo desenvolveu-se um modelo para cada tipo de queijo: meia cura e curado. Em cada um foi utilizado o padrão de cores utilizados nos rótulos, sendo o curado com tons mais claro e o meia cura com tons mais escuros, sendo composta pela assinatura da linha intercalada com frases que são diferenciais de cada produto, como a região de procedência. Além disto, há a apresença do mesmo QR Code dos rótulos que levam os consumidores a um site para eles saber mais sobre os cooperados e a cooperativa.
fsdv
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Graduação em Design pela Universidade FUMEC
Professora orientadora de projeto: Claudia de Almeida Teixeira
Aluna: Izabela Sousa Lara Ribeiro
Projeto com nota máxima.